Edicao brasileira do consagrado livro de Rainer Zitelmann é lançado no Brasil

Livro inédito no Brasil encara o nacional-socialismo de frente e sem simplificações baratas

Surpreendente análise sobre o pensamento econômico e social de Hitler chega ao mercado Brasileiro

O selo Desterro anuncia o lançamento de um dos livros mais interessantes do ano: “Hitler: anticapitalista e revolucionário”, do historiador e sociólogo alemão Rainer Zitelmann. A estreia será marcada por transmissão ao vivo no dia 06 de dezembro de 2024, no canal do YouTube de João Eigen, prefaciador da edição brasileira, às 19h.
A obra desafia interpretações tradicionais sobre Adolf Hitler, revelando seu desprezo pela burguesia, sua admiração por economias centralizadas e sua visão de uma comunidade socialista racialmente homogênea. Baseando-se em fontes inéditas para o público brasileiro, Zitelmann desconstrói o rótulo de Hitler como conservador, apresentando-o como um líder revolucionário que acreditava na primazia da política sobre a economia e no uso do Estado como instrumento ideológico. “Este livro traz uma inédita abundância de discursos e textos onde Hitler expressa, tanto em público quanto em privado, suas opiniões sobre temas sociais e econômicos. Ele é um convite ao leitor para encarar o fenômeno nacional-socialista de frente, sem as simplificações ideológicas que dominam o debate público”, afirma o cientista político João Eigen.

Extensa carreira

Reconhecido mundialmente por sua abordagem inovadora e ousada, Rainer Zitelmann é um historiador, sociólogo e escritor alemão com uma carreira acadêmica e profissional extensa. Doutor em Filosofia e em Sociologia, ele publicou 29 livros traduzidos para mais de 30 idiomas. Sua obra sobre Hitler, baseada em sua tese de doutorado, é considerada um marco nos estudos sobre o Nacional-Socialismo.
Já João Eigen, prefaciador e tradutor da obra, é criador de um dos canais brasileiros mais influentes sobre ideologias totalitárias no YouTube. Também é autor dos livros “O Fascismo como Ideologia e a Revolta Totalitária” (Appris Editora, 2023) e “O Mínimo sobre Ideologia Fascista” (O Mínimo, 2024). “A leitura da obra de Zitelmann é essencial para quem deseja compreender as raízes e os desdobramentos de uma das ideologias mais devastadoras da história. Este livro oferece ao leitor a chance de pensar criticamente sobre o Nacional-Socialismo fora das discussões superficiais que vemos frequentemente, principalmente na internet”, ressalta João, que também elaborou notas repletas de informações para auxiliar os leitores na compreensão dos conceitos e da conjuntura da época. Essas notas, exclusivas da edição brasileira, oferecem um aprofundamento que amplia a experiência de leitura.

Lançamento

Data: 06/12/2024 | 19h | Canal no YouTube de “João Eigen”
Acompanhe também dois Podcasts com João Eigen no Youtube
Data: Beyond The Cave | 05/12/2024 | 19h
Data: Caravelas Podcast | 06/12/2024 | 11h30

Contatos
  • João Eigen 47 99111-3020 | Victor Carlson (Desterro) 48 99960-2311
  • Site oficial do autor: www.rainer-zitelmann.com
resenha de publicação judaica

A resenha a seguir foi originalmente publicada em novembro de 2024 na “Jüdische Rundschau”, publicação mensal da Editora Jewish Berlin Online, de autoria do jornalista austríaco Stefan Beig.

“Hitler tinha muito mais em comum com a esquerda do que geralmente se supõe”, diz autor alemão ao celebrar publicação de seu estudo no Brasil
O livro “Hitler: anticapitalista e revolucionário” (original em alemão “Hitler: Selbstverständnis eines Revolutionärs”), de Rainer Zitelmann, apresenta uma análise inovadora sobre a ideologia e a visão de mundo de Adolf Hitler, rompendo com a categorização tradicional que o coloca exclusivamente no espectro da extrema-direita. O autor argumenta que Hitler se via como um revolucionário anticapitalista, desprezando tanto as forças conservadoras e burguesas quanto os ideais socialistas tradicionais, e buscando uma síntese radical entre nacionalismo e socialismo. O livro se destaca pela imparcialidade, além de desafiar ideias arraigadas sobre o posicionamento político de Hitler.

Uma abordagem diferenciada sobre Hitler

Rainer Zitelmann examinou os discursos, escritos, monólogos e interações privadas de Hitler para demonstrar que sua visão política ia além da extrema-direita. Hitler possuía elementos ideológicos associados à extrema-esquerda, como sua rejeição ao capitalismo e às elites burguesas. Ao mesmo tempo, via socialistas e comunistas como rivais.
Segundo o historiador, Hitler aspirava transcender as divisões ideológicas tradicionais, buscando criar um “novo extremo” que combinasse nacionalismo e socialismo. Em suas próprias palavras, Hitler defendia que: “Toda ideia verdadeiramente nacional é, em última análise, social, ou seja, é socialista: quem quer que esteja preparado para defender seu povo tão completamente a ponto de realmente não conhecer nenhum ideal mais elevado do que apenas o bem-estar de seu povo… é um socialista.”
A ideia central de Hitler era que o nacionalismo e o socialismo eram complementares. Ele acreditava que o socialismo deveria existir em uma estrutura racial e nacional homogênea, rejeitando a igualdade universal, como reflete a afirmação: “O socialismo só pode estar dentro da estrutura do meu povo, porque só há pessoas aproximadamente iguais em um corpo nacional em comunidades raciais maiores, mas não além disso.”
Essa visão contradiz as classificações convencionais que reduzem Hitler a um reacionário de direita, ampliando a compreensão de sua ideologia como uma tentativa de fusão revolucionária de ideias opostas.

Divisão cronológica da ideologia de Hitler

Uma das contribuições mais relevantes do livro é a distinção que Zitelmann faz entre as diferentes fases do pensamento de Hitler ao longo das décadas de 1920, 1930 e 1940. Muitos autores tratam a ideologia de Hitler como estática desde sua entrada no Partido Nacional-Socialista em 1919, mas o autor demonstra que houve mudanças significativas. Por exemplo, no início, Hitler tinha uma visão mais próxima de certos ideais socialistas, que evoluiu para um nacionalismo extremo e, posteriormente, para um foco obsessivo no antissemitismo e na conquista de espaço vital no Leste.
Essa abordagem cronológica permite compreender as nuances do pensamento de Hitler. Zitelmann mostra como Hitler adaptava sua retórica dependendo do público e das circunstâncias, manipulando grupos sociais diversos, como agricultores, operários e industriais, para angariar apoio. O autor descreve Hitler como um mestre da demagogia, que deliberadamente usava discursos simplificados e populistas para conquistar as massas.

A imparcialidade como diferencial

Outro aspecto que diferencia o trabalho de Zitelmann é sua abordagem sóbria e analítica, sem julgamentos emocionais. O autor evita críticas diretas, optando por uma análise neutra, algo que muitos acadêmicos têm dificuldade em fazer ao tratar de figuras historicamente condenadas, como Hitler. Essa postura aumenta a credibilidade acadêmica da obra, permitindo uma avaliação objetiva das ideias e estratégias do líder nazista.
O autor também separa cuidadosamente sua análise de suas próprias convicções políticas, que mudaram ao longo do tempo. No passado, ele tinha tendências de esquerda, mas atualmente é defensor do liberalismo clássico. Essa transformação pessoal não interfere na análise apresentada no livro, que mantém um foco rigoroso nos fatos e nas fontes primárias.

Contradições ideológicas de Hitler

Uma das conclusões mais surpreendentes de Zitelmann é que Hitler não pode ser categorizado simplesmente como um político de extrema-direita. Segundo o autor, Hitler incorporava elementos tanto da extrema-direita quanto da extrema-esquerda, e sua proposta era transcender essas categorias por meio de uma nova forma radical de política. Ele via o nacionalismo e o socialismo como complementares, afirmando que toda ideia nacional verdadeira é, em última instância, socialista, e que o socialismo só pode existir em uma comunidade nacional homogênea.
Hitler desprezava o nacionalismo burguês, que associava aos interesses egoístas de classe e de lucro, e buscava um nacionalismo revolucionário, baseado na ideia de servir ao povo na totalidade. “O socialismo se torna nacionalismo, o nacionalismo se torna socialismo. (…) Não conhecemos o orgulho de classe. Conhecemos apenas um orgulho, o de sermos servos de um povo.” Para ele, o socialismo deveria promover a igualdade em uma estrutura racial e nacional, mas excluía a ideia de igualdade universal. O historiador ilustra essas contradições com citações de Hitler, como sua afirmação de que “quanto mais fanaticamente nacionais formos, mais devemos nos preocupar com o bem-estar da comunidade nacional, ou seja, mais fanaticamente socialistas seremos”.

A relação com o anticapitalismo e o bolchevismo

O livro também aborda o papel do anticapitalismo no pensamento de Hitler, demonstrando que ele era uma constante ao longo de sua carreira política. Zitelmann argumenta que Hitler rejeitava o capitalismo não apenas por razões táticas, mas como parte de sua visão de mundo. Ele acreditava que o capitalismo era incompatível com os interesses do povo alemão e a economia deveria ser subordinada às necessidades do Estado. Embora Hitler tenha evitado a nacionalização total, ele impôs controles rígidos à propriedade privada, permitindo-a apenas quando servia ao bem comum.
Por outro lado, a relação de Hitler com o bolchevismo era mais complexa. Inicialmente, ele via o bolchevismo como uma ameaça significativa, mas, com o tempo, passou a considerá-lo menos relevante, enxergando-o como um instrumento do “capitalismo judaico”. O autor destaca que as declarações públicas de Hitler contra o bolchevismo frequentemente tinham caráter tático e que, em particular, ele mostrava admiração pelo sistema de planejamento estatal da União Soviética.

A verdadeira oposição ao nazismo

Zitelmann questiona a ideia comum de que os socialistas e comunistas eram os principais opositores do nazismo. Embora tenham sofrido intensa perseguição no Terceiro Reich, o autor argumenta que as forças conservadoras e pró-monarquistas representavam a ameaça mais efetiva a Hitler. Figuras como Ludwig Beck e Carl Friedrich Goerdeler, que estavam à direita de Hitler, lideraram as tentativas mais organizadas de resistência, enquanto os partidos burgueses eram vistos como fracos e politicamente irrelevantes por Hitler.
Essa perspectiva é corroborada por outros historiadores, como Sebastian Haffner, que afirmou que a verdadeira oposição a Hitler veio da direita. Essa visão desafia a narrativa predominante de que o nacional-socialismo era simplesmente uma extensão da extrema-direita, sugerindo que ele ocupava uma posição única no espectro político.

A obsessão com o “espaço vital”

Outro ponto central do livro é a análise da política expansionista de Hitler, baseada na ideia de “espaço vital no Leste”. Influenciado pela teoria de Thomas Malthus, Hitler acreditava que o crescimento populacional exigia a expansão territorial para garantir recursos suficientes. Ele via a conquista de terras na Europa Oriental como essencial para a sobrevivência da Alemanha e justificava suas políticas de guerra e genocídio com base nessa premissa.
O historiador critica essa visão como ultrapassada, apontando que o aumento da produtividade e o livre comércio poderiam ter solucionado problemas econômicos sem a necessidade de expansão territorial. No entanto, Hitler rejeitava o livre comércio, preferindo um modelo de autossuficiência econômica combinado com uma visão pessimista do futuro do comércio mundial.

Impacto e relevância do livro

Desde sua publicação inicial há 37 anos, o livro de Rainer Zitelmann tem sido amplamente reconhecido como um trabalho fundamental sobre a visão de mundo de Hitler. Originalmente destinado a historiadores, ele agora atrai um público mais amplo, interessado em entender as contradições e complexidades da ideologia nazista. O estudo permanece relevante, especialmente em um contexto em que as discussões sobre totalitarismo e ideologias extremas continuam a ter importância contemporânea.

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