Um “influencer” do YouTube está se tornando o maior bastião da luta pela liberdade de expressão na Alemanha. Timm Kellner, de 51 anos, ganha a vida fazendo uma sátíra de direita sobre o noticiário político do país. Desde 2015, quando iniciou sua carreira no vídeo, já arrebanhou mais de meio milhão de seguidores na plataforma e abriu uma loja virtual onde vende livros, roupas, brindes e assessórios com tiradas e slogans que ele mesmo cria em seu programa.
Autodenominado “Love Priest”, Kellner incorpora o personagem. Em cada aparição repete continuamente que é um transsexual imaginário, e tira onda com a galera do movimento Woke, abusando da ironia e do sarcasmo politicamente incorreto. Além da pauta ideológica, o alvo principal dos seus comentários são os políticos, com especial atenção para os que fazem parte do primeiro escalão do governo.
Ao primeiro-ministro, Olaf Scholz (SPD), por exemplo, ele se refere como “inutilis” ou “sem-memória”. O ministro da economia e ação climática, Robert Habeck (Verdes) é chamado intercaladamente de “autor de livros infantis”, “criador de galinhas”, “ruinator” e “cabeça fraca”, fazendo um jogo de palavras e piadas de humor negro que divertem mais pela ousadia do que pela inteligência.
Campanha difamatória
Mesmo assim, suas sátiras têm base em eventos, discursos, entrevistas ou gafes de cada figura dissecada nos vídeos. Em 2023 a ministra das relações exteriores, Annalena Baerbock foi flagrada dando uma explicação sem sentido sobre sua politica feminista e a estrutura de saneamento na Nigéria. Foi o suficiente para virar a “nossa especialista em merda nigeriana” nos episódios de até 15 minutos que o humorista publica diariamente.
Mas quem não gostou mesmo da piada foi a ministra do Interior, Nancy Faeser (SPD), batizada por Kellner de “miojo inchado” (Aufgedunsene Dampfnudel). Além do processo criminal que ela já ganhou em primeira e segunda instâncias, a ministra pediu à procuradoria-geral para iniciar uma série de investigações que até hoje resultaram em cinco mandados de busca e apreensão na casa do YouTuber. As acusações: “campanha difamatória” e “ataque à autoridade estatal”.
Timm se mostra um colosso frente “à pesada mão do Estado”, como disse a própria ministra Faeser ao anunciar no início do ano um plano para monitorar e punir aqueles “zombarem” das autoridades. “Eles não querem apenas me calar. Eles querem me quebrar financeiramente, me difamar como um agitador e então me botar na cadeia”, diz ele no vídeo que fez sobre o caso, afirmando que há muitos outros processos.
Ao anunciar que sua apelação fora considerada improcedente na segunda instância, o YouTuber reforçou sua campanha para os fas fazerem doações e se colocando como o defensor da liberdade de expressão frente à censura e opressão do poder político vigente.
Engrenagem do poder
Entres as engrenagens desse poder destaca-se a mídia oficial, denominada “difusora pública de lixo” na sátira do alemão. Ele se refere às redes públicas de TV e rádio, alimentadas pelo imposto compulsório, que cada residência do país é obrigada a pagar. No total, esse sistema público de radiodifusão administra uma bagatela de 9 bilhoes de Euros anuais.
“É absurdo suficiente que as duas maiores redes de televisão do país estejam na mão de agentes públicos e não sob a responsabilidade de profissionais independentes. Mas essa mídia dita pública, funciona como um órgão de assessoria do governo. Frequentemente funcionários, apresentadores, jornalistas das redes públicas servem de assessores de ministros e parlamentares, acompanhando-os em viagens e eventos. A permissividade e o conflito de interesses são totais. Como podemos confiar nas informações de um sistema assim?”, questiona Timm Kellner.
Ele também lembra da discrepância jurídica e midiática dos agentes oficiais. O influencer cita a líder da AfD (Alternative für Deutschland), Alice Weidel, que foi chamada de “vagabunda nazista” no programa de sátira ‘Extra 3’ da maior rede pública do país, a ARD. A parlamentar processou o programa e perdeu em todas as instâncias.
Também recorda o caso de uma deputada do partido A Esquerda (Die Linke), que em 2021 escreveu no Twiter que os eleitores da AfD deveriam ser mandados para a câmara de gás. “O processo contra ela foi arquivado em novembro do ano passado, incondicionalmente”, aponta o YouTuber.
Chamado divino
Kellner afirma que não ganha um centavo na plataforma dos seus vídeos. “Não tenho propaganda ou patrocinio. Eu faço isso por um chamado divino, há anos, todos os dias, e claro sou assim um espinho no olho deles, pois eu luto pela liberdade de expressão e opinião. Eu mantenho o espelho levantado na frente da cara deles”.
Ex-militar e policial, o influencer tem consciência dos seus riscos. Além da multa de 11 mil Euros estipulada na primeira instância, Timm terá que pagar todas as custas da causa e ainda deixará de ser réu-primário, se perder contra a “Miojo Inchada” na suprema côrte em Karlsruhe.
Ou seja, caso se concretize, a derrota na justiça deixará o YouTuber não só falido, mas principalmente mais vulnerável juridicamente contra todos os outros processos atuais e futuros. Apesar disso, Timm Kellner continua publicando seus vídeos e textos. “Nao arredamos um milímetro!”, brada ele, enquanto posta pequenos manifestos contendo inegáveis semelhanças com o contexto atual de outras partes do mundo:
Direito à sátira
Eles instalaram um sistema de medo!
Punir um e educar centenas!
Eles revistam as casas dos aposentados e agora também os quartos das crianças!
Os ministros federais perseguem cidadãos inocentes e inofensivos!
É um sistema totalitário de esquerda em solo alemão, segundo rumores de extremistas de direita.
Lutarei até o fim por nossa liberdade de opinião.
Agora mais do que nunca!
Obrigado por seu apoio!Seu
Padre do Amor
Meu nome é Timm Kellner, tenho 50 anos, sou alemão e servi ao meu país como soldado e policial. Tenho uma opinião firme e digo o que penso, mesmo que isso não seja mais bem-vindo na Alemanha.
Sou presidente do clube de motociclistas Brothers Guard MC Germany e também fundei a lista “Für die Eigenen!”, que é um movimento de cidadãos extraparlamentar criado para reunir o maior número possível de pessoas sensatas a fim de formar um contrapeso político e social ao cartel do partido no poder.
Por nós mesmos!
Timm K.
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